Como se disseminam as informações falsas? A cultura da evidência incita um emaranhado de assuntos que causam polêmicas, alimentando o ciclo de controvérsias como moeda para ser percebido. Essa moda foi reforçada pela popularidade de influenciadores virais, como aquele que usou sua capilaridade digital para se candidatar à prefeitura de São Paulo. O insuflador das redes sociais amalgama temas complexos, relativizando tudo — do posicionamento político-ideológico à norma jurídica brasileira, passando por religião e costumes.
De um lado, os incautos; do outro, os que detêm o microfone. Nessa dinâmica, cria-se uma voz capaz de postular todo tipo de opinião, que invariavelmente incentiva o ódio às mentes já sufocadas pelo analfabetismo funcional — um problema que atinge uma média entre 20% - 29%dos brasileiros, em 2021, segundo dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
Até o sistema de conhecimento — acadêmico e público — no Brasil torna-se alvo de críticas vazias, desconectadas da realidade dos esforços que buscam transformar a sociedade.
Segundo a UNESCO, o Brasil ocupa a 63ª posição no índice global de educação, refletindo a fragilidade das bases educacionais. Enquanto isso, nas redes sociais, empresas comprometidas com suas metas de vendas transformam conteúdos diversos — da divulgação científica a tutoriais de obras residenciais — em pequenas doses de 1 minuto e 30 segundos, um superficialismo da complexidade do conhecimento, tudo em prol do engajamento, recurso do qual não podemos renunciar nas estratégias de posicionamento de nossas marcas.
A plataforma de Mark Zuckerberg e os desdobramentos de outras categorias de redes sociais foram pensadas como uma forma de encadear interações e reciprocidade. O mercado ajustou esse produto e massificou a superficialidade. No fim, acessamos um manual de adaptação que combina estética e posição social, em que os filtros visuais se tornaram padrões estéticos que jovens, adultos e, principalmente, mulheres se sentem pressionados a seguir. Esse é o novo oligopólio: influenciadores que vendem uma falsa receita de sucesso para uma maioria que não possui os recursos financeiros necessários para patrocinar sua evidência. A maioria da população brasileira, que segundo o Banco Mundial tem uma renda per capita de apenas cerca de US$ 9.000 por ano, não consegue acompanhar o ritmo imposto por esse sistema, que com louvor estimula o auto-interesse individual, ou seja, a liberdade de empreender nossos saberes e práticas, mas que não é benévolo com os desiguais e não incentiva proximidade e redes de reciprocidade. Afinal, precisamos da prova social do algoritmo para o reconhecimento e a bonança.
Quem se beneficia do auto-interesse do algoritmo? Será o algoritmo a nova mão invisível do mercado, uma orquestração que centraliza o poder e amplifica o monopólio? Não há tempo para o devagar e o contemplativo. Sucesso depende de rapidez e eficiência em massificar conteúdo. A monetização, nesse cenário, é um incentivo supostamente democrático que remunera quem melhor se adequa ao sistema, mas é uma promessa vã à maioria.
Agora, a inteligência artificial já está incorporada às plataformas, aumentando o potencial de alienação cotidiana. A ferramenta que substitui tarefas pode se tornar objeto da superficialidade de conteúdo sem filtro ético e sem comprometimento com a complexidade científica. As necessidades e ansiedades são estimuladas dia após dia, e enquanto isso, a criatividade, a pluralidade e a inteligência humanas descem uma ladeira. Em um contexto educacional público fragilizado e com qualidade distante do ideal, cria-se uma massa de consumidores pouco exigentes e desprovidos de pensamento crítico. O Índice Global de Criatividade coloca o Brasil na 66ª posição, muito atrás dos países que lideram a inovação em STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática).
A superficialidade domina as redes, as relações e os modos de pensar. Não há dúvidas, a superficialidade é a matéria-prima da nossa própria extinção. Precisamos de uma contra-evolução, de uma parada no tempo para ajustar os ponteiros e resgatar a essência humana — aquela que é plural, criativa e capaz de transformar a realidade, mas que agora se perde em feeds infinitos e filtros que mascaram quem realmente somos. De verdade, se você quer fazer parte de uma comunidade genuína e construir laços fortes, conecte-se. Nós precisamos de amigos. Aqueles que nos ensinam a sermos melhores e nos levam adiante. Obrigada a todos que apreciam as singularidades da humanidade.
Autora: Fabiane Frois B Weiler, Founder Tropicália Lab do Brasil.
Instagram: @tropicalialabdobrasil
Facebook: @TropicaliaLabdoBrasil
Linkedin: @fabianefroisbweiler
Commentaires